Criança dispersa e déficit de atenção são coisas diferentes; entenda
Thais Carvalho Diniz
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
- Getty Images
Para ter TDAH, é preciso que os sinais estejam presentes em mais de um ambiente, como casa e escola
O transtorno é real, mas não deve ser confundido com uma desatenção característica de determinadas fases do desenvolvimento infantil. Seu diagnóstico é complexo, envolvendo uma avaliação clínica detalhada da criança nos vários ambientes que ela frequenta, como casa e escola.
A seguir confira dez perguntas e respostas sobre o transtorno.
1) O que é TDAH?
Segundo Guilherme Polanczyk, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, o TDAH é um transtorno caracterizado por sintomas intensos e frequentes de desatenção, hiperatividade, impulsividade, que não são esperados para o momento do desenvolvimento em que a criança se encontra.
2) Em qual fase da vida é possível diagnosticar uma criança com o transtorno?
"Em geral, até os cinco anos, é normal que a criança seja mais inquieta e não consiga se concentrar em uma mesma atividade por muito tempo. Portanto, o TDAH é mais diagnosticado a partir dos seis ou sete anos, quando se inicia o processo de alfabetização", afirma Maria Conceição do Rosário, professora-adjunta do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). "É preciso tomar muito cuidado para não taxar de hiperativa uma criança que, na verdade, está apenas em uma fase mais agitada."
Apesar de poder ser diagnosticado em idade escolar, o TDAH não está relacionado apenas com a escola. "Muitos associam, mas essa é uma visão equivocada. Diversos estudos mostram que o transtorno é causa de acidentes domésticos e pode aparecer em ambientes recreativos. Ele provoca estresse no convívio familiar e prejuízo na interação com amigos", diz Polanczyk.
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Falar
palavrão e fumar diante das crianças, entre outras atitudes, podem
influenciar negativamente no comportamento delas, mesmo que se ensine o
contrário? A resposta é sim, dizem os especialistas. "É preciso ter
coerência entre aquilo que se diz e o que se pratica", afirma a pedagoga
Celina Bragança. Mesmo sendo desejável, a coerência entre palavras e
atos nem sempre é possível. "Ao cometer um erro, deve-se ser honesto.
Transparência é o melhor caminho para a educação dos filhos", diz a
psicóloga Izete Ricelli, mestre pela PUC de São Paulo. Veja a seguir dez
atitudes dos pais que deseducam as crianças | Por Catarina Arimatéia -
Do UOL, em São Paulo | Consultoria: Celina Braganga; Izete Ricelli e a
pedagoga Francisca Paris Jeff Camargo/Arte UOL
Dicas para auxiliar o tratamento:
Estudo:- Na escola, a criança pode se concentrar melhor na aula sentando na primeira fileira e longe da janela;
- Aulas de apoio com atenção individualizada para melhorar o desempenho são bem-vindas;
- Reservar um espaço arejado e iluminado para a realização das lições de casa.
Em casa:
- Pais devem ter sempre um tempo disponível para interagir com a criança;
- Recompensar o bom desempenho e reforçar as qualidades;
- Não estabelecer comparações entre os filhos;
- Não sobrecarregar com excesso de atividades extracurriculares;
- Manter o ambiente doméstico harmônico e organizado.
Fonte: ABDA (Associação Brasileira do Déficit de Atenção) e Maria Conceição do Rosário (Unifesp)
4) Como é feito o diagnóstico de TDAH?
"Não existe nenhum exame para detectar o TDAH. O diagnóstico é feito por avaliação clínica bem detalhada, que demanda tempo, pois exige entrevistas com a criança, os pais, além de coleta de informações sobre o comportamento na escola e com os amigos", declara Maria do Rosário, da Unifesp.
Para Polanczyk, da USP, eventualmente, são feitos testes complementares, como avaliação neurológica e psicopedagógica.
5) Quais sintomas uma criança que tem TDAH apresenta?
Segundo Polanczyk, os principais sintomas são: dificuldade em permanecer atento a uma tarefa e de esperar, desorganização e inquietação demasiada.
Os especialistas lembram que, para ter TDAH, é preciso que esses sinais estejam presentes em mais de um ambiente (em casa e na escola, por exemplo) e estejam acontecendo há mais de seis meses.
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Casada
com um francês, a canadense Karen Le Billon viu a relação da suas
filhas, Sophie, 7 anos, e Claire, 3, com a comida sofrer uma revolução
quando a família se mudou, por um ano, para o pequeno vilarejo francês
Pléneuf Val-André, terra natal do seu marido, Philippe. Com a
convivência com a família de origem do companheiro, Karen percebeu o
quão pobre era a dieta de suas meninas, à base de carboidratos e
laticínios, e como as crianças francesas comiam de tudo, não só vegetais
variados, como também alimentos mais difíceis para o paladar infantil,
como mexilhões. Com o apoio da cultura local, de fazer da hora da
refeição um momento sagrado, ela empreendeu uma mudança significativa em
seus próprios hábitos e nos das filhas. O resultado dessa experiência
está no livro "Crianças Francesas Comem de Tudo" (Editora Alaúde), em
que ela reuniu as "dez regras de ouro para criar filhos saudáveis e
felizes à mesa" | Por Adriana Nogueira - Do UOL, em São Paulo Getty Images
"Frequentemente, os pais percebem a presença dos sintomas antes da escola, mas não têm clareza se essas manifestações são esperadas ou não para a idade. Nesse contexto, a escola serve como um balizador, apontando que determinados comportamentos são de fato disfuncionais e merecem avaliação especializada", fala Polanczyk.
7) O TDAH é hereditário?
"Sim. Está entre as características mais herdadas, como a altura, por exemplo. Mas a criança também sofre influências ambientais, por isso, quanto mais cedo começa o tratamento, maiores as chances de uma boa resposta e uma evolução melhor", diz Maria do Rosário.
8) Quais são os tipos de tratamento para o TDAH?
Segundo Maria do Rosário, da Unifesp, é primordial que pais e educadores que acompanham a criança entendam e conheçam profundamente o assunto. Em seguida, vem o acompanhamento com terapia, que é fundamental para toda a família, pois ajuda a saber lidar melhor com quem possui o transtorno e com possíveis diagnósticos associados, como baixa autoestima, dificuldade na escola e problemas na fala.
Polanczyk ressalta que, em casos leves, nos quais os prejuízos funcionais –como rendimento escolar– são mínimos, pode-se optar apenas pelo tratamento terapêutico. Caso apenas essas alternativas não sejam suficientes, existe o tratamento farmacológico.
Os remédios são chamados psicoestimulantes e atuam em áreas do cérebro responsáveis pelo controle do que fazer e em qual momento, e ajudam a focar a atenção.
10) O distúrbio pode "desaparecer" com o passar do tempo?
Fatores genéticos e ambientais precoces (baixo peso no nascimento, prematuridade, exposição intrauterina a toxinas) são risco para o transtorno.
"Não existe cura, mas, em 50% dos casos, os sintomas diminuem na adolescência e na fase adulta", declara Maria do Rosário.
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